A hematologista Patrícia Cardoso, abordou a Estruturação de um Serviço de Referência para Atendimento a pessoas com Doença Falciforme.

Promover a interação entre especialistas franceses e brasileiros que atuam na área de imuno-hematologia, contemplando atividades teóricas e práticas e discussões de casos foram a pauta do Workshop Franco-Brasileiro de Assistência Hemoterápica e Imuno-hematologia de Pacientes Complexos e Pessoas com Doença Falciforme (DF), realizado de 26 a 29 de novembro, no Hotel San Francisco Flat, em Belo Horizonte.

No primeiro dia do encontro, a coordenadora dos ambulatórios da Fundação Hemominas, a hematologista Patrícia Cardoso, abordou a Estruturação de um Serviço de Referência para Atendimento a pessoas com Doença Falciforme. Cardoso explicou que a Fundação é referência para o diagnóstico e tratamento de pacientes portadores de coagulopatias, hemoglobinopatias e que necessitam de transfusão de sangue ou sangria terapêutica no estado de Minas Gerais, destacando que a instituição atende a mais de 7 mil pacientes cadastrados. Salientando a importância dos cuidados de saúde e a letalidade relacionada à Doença Falciforme no Brasil, ela informou: “Para pessoas com DF, as quais não recebem os cuidados de saúde necessários, a expectativa de vida é de 8 anos. Em contrapartida, aqueles que dispõem do tratamento adequado vivem em média 45 anos”.

A médica explicou, ainda, o fluxo assistencial para o diagnóstico precoce da DF: começa com o Teste de Triagem Neonatal (Teste do Pezinho), realizado pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), e oferecido gratuitamente à população dos 853 municípios de Minas, sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). O exame é feito em recém-nascidos, a partir de 48 horas e até o quinto dia de vida. Nos casos em que o resultado é positivo para DF, o controle da doença é feito pela Unidade Básica de Saúde (UBS) e o acompanhamento dos pacientes é realizado pela Hemominas. A meta da instituição é que a primeira consulta seja agendada para até 23 dias após o diagnóstico. Já os casos em que é diagnosticado o traço falciforme, o controle é feito por meio da UBS.

Diversos temas foram abordados no segundo dia: Avanços no Tratamento de Pessoas com Doença Falciforme, pelo Dr. Christian Kassasseya, do Serviço de Urgência do Hospital Henri-Mondor, da França, foi um deles. Por sua vez, a Dra. Thalita Costa, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, falou sobre o Transplante de Células Progenitoras Hematopoiéticas, que estão presentes na medula óssea, no sangue periférico e no sangue do cordão umbilical. Já o Dr. Marcelo Addas-Carvalho, do Hemocentro de Campinas e UNICAMP, abordou o Suporte Transfusional.

Dra. Luciana Cayres, coordenadora da Central de Imuno-Hematologia, apresentou casos clínicos de alta complexidade em imuno-hematologia eritrocitária.
Dra. Luciana Cayres, coordenadora da Central de Imuno-Hematologia, apresentou casos clínicos de alta complexidade em imuno-hematologia eritrocitária. Foto: Adair Gomez.
O terceiro dia do encontro foi marcado pela apresentação e discussão de casos clínicos de alta complexidade em imuno-hematologia eritrocitária. A Fundação Hemominas foi representada pela Dra. Luciana Cayres, coordenadora da Central de Imuno-Hematologia. Ela apresentou dois casos que instigaram a equipe pela complexidade do quadro: uma paciente com anemia falciforme identificada como anti-U like, e um doador que não possui o antígeno Holley no sangue (Hy nulo). Mais duas pesquisadoras, Dra. Denise Menezes Brunetta, do Laboratório de Imuno-hematologia, do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (HEMOCE/CE), e a Dra. Flávia Leite de Sousa Santos, do Hemocentro de Ribeirão Preto (FHRP/USP/SP), apresentaram dois casos clínicos cada uma.

Também o Dr. Stéphan Cohen-Bacrie, do Banco Nacional de Sangue com Fenótipos Raros de Créteil, da França, trouxe para discussão casos clínicos de hemólise pós-transfusional tardia.

Além dessa mesa redonda, aconteceu a Conferência “Inflamação e a Fisiopatologia da Doença Falciforme”, ministrada pela Dra. Nicola Conran, pesquisadora do Hemocentro de Campinas (UNICAMP).



Encerramento: REDS III

O quarto e último dia do workshop começou com a apresentação do professor e pesquisador Mehdi Khellaf, chefe do serviço de emergência do Hospital Henri-Mondor, da França. O hospital completou 50 anos de existência e atualmente atende cerca de 20 mil pessoas, em geral. Na oportunidade, Khellaf informou que a doença falciforme tornou-se a primeira doença genética na França, com atualmente 15 mil pacientes e 20 mil esperados para 2020, e explicou como a instituição francesa atende os pacientes falciformes durante as crises vaso-oclusivas.

Doutora Ana Bárbara apresenta trabalho durante Workshop.
A pesquisadora Anna Bárbara Proietti apresentou pesquisa que busca definir a prevalência de complicações clínicas, com foco nos resultados da transfusão em uma grande amostra da população brasileira, e criar a infraestrutura para realizar estudos direcionados na coorte. Foto: Adair Gomez.
Outro destaque foi a palestra da pesquisadora e ex-presidente da Fundação Hemominas, Anna Bárbara Proietti. Representando a equipe que participou do estudo REDS-III, ela apresentou o tema “Reds-III - Estudo de coorte de doença falciforme no Brasil: resultados de estudos de associação de genótipos e fenótipos de receptores de transfusão”. A pesquisa busca definir a prevalência de complicações clínicas, com foco nos resultados da transfusão em uma grande amostra da população brasileira ,e criar a infraestrutura para realizar estudos direcionados na coorte. “A doença falciforme é sistêmica, ou seja, ela atinge todo o organismo. Nós seguimos estudando para tentar melhorar o atendimento e a qualidade de vida dos pacientes falciformes”, enfatizou.

Anna Bárbara fez um breve histórico sobre o projeto REDS - Retrovirus Epidemiology Donor Study – iniciado nos EUA, em 1989, e do qual a Fundação Hemominas passou a fazer parte em 2007. Inicialmente, o projeto incluía o National Institutes of Health (NIH), sediado em Washington, e o Vitaland Research Institute, em São Francisco/EUA, e buscava estudar os impactos da epidemia de HIV nos bancos de sangue americanos. Em 2011, passou-se a abrir oportunidades para projetos de outros países e incluir estudos sobre os receptores de transfusões sanguíneas.

A terceira etapa do REDS-III estabeleceu uma grande coorte (grupo de pessoas com experiências em comum) multicêntrica para caracterizar os desfechos clínicos na população brasileira de doença falciforme e criar a infraestrutura para realizar estudos de associação genótipo-fenótipo. Um total de 2.795 participantes, selecionados aleatoriamente em seis locais brasileiros foram inscritos entre 2013 e 2015. Um biorrepositório de amostras de sangue foi criado, com a inserção de dados demográficos e clínicos abrangentes em um banco de dados eletrônico centralizado. Os resultados preliminares do estudo foram publicados no British Journal of Haematology.

Anna Bárbara aproveitou para divulgar os planos para o REDS IV, próxima fase do estudo. Outros institutos, como o Hemoam (Amazonas) e o Hemocentro de Ribeirão Preto farão parte desta nova etapa do projeto.

Atualmente, o Brasil tem entre 25 mil e 30 mil pessoas com doença falciforme e cerca de 7 milhões de portadoras, levando ao nascimento de aproximadamente 3.500 bebês com a doença anualmente. Em Minas Gerais, são cerca de 7 mil pacientes cadastrados pela Fundação Hemominas.



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Gestor responsável: Assessoria de Comunicação Social

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