“Esse aí tem tutano!”

Quem nunca ouviu essa expressão alguma vez? Na linguagem e sabedoria do povo, ter tutano é ter coragem, ter força, inteligência, ser muito capaz. Na linguagem da vida, tais características, aliadas a outras como empatia, altruísmo, espírito solidário, generosidade, fazem parte do perfil de quem se dispõe a doar a esperança, a possibilidade da sobrevivência, da cura.

Pois é isso o que fazem os doadores de medula óssea, tecido encontrado no interior dos ossos e popularmente conhecido como “tutano”: doar vida em vida. E, assim, as linguagens se encontram: com seu gesto, o doador está transfundindo a coragem tão necessária a quem precisa de toda a força e capacidade para enfrentar os desafios impostos pelas várias doenças que demandam o transplante de medula como único tratamento. Entre elas, as caracterizadas pela produção anormal de células sanguíneas, geralmente causada por algum tipo de câncer no sangue como leucemias e linfomas, além de portadores de aplasia medular.

A publicitária mineira Duda Dornela fez o transplante de medula óssea em novembro de 2016, em São Paulo. Crédito: Arquivo pessoal.

Dessa forma, a celebração, neste 19 de setembro, do Dia Mundial do Doador de Medula Óssea – WMDD – é um justo reconhecimento a todos aqueles que fazem de suas vidas a extensão da vida de tantos outros. A data foi criada pela World Marrow Donor Association (WMDA), que reúne os registros de doadores de medula de 52 países.

Além de destacar a necessidade da doação de medula óssea, a data tem como objetivo lembrar aos voluntários já cadastrados a importância de se manter os dados atualizados, para facilitar a localização do possível doador.

Aos doadores de "tutano", o agradecimento da Fundação Hemominas. E, é claro de todos aqueles que deles recebem o alento para caminhar nessa estrada chamada vida.

Brasil: o 3° do mundo em cadastros

O Brasil possui o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo – o REDOME – Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, que conta com cerca de quatro milhões de pessoas cadastradas, sendo que mais de 550 mil se cadastraram em Minas Gerais, nas unidades da Fundação Hemominas.

Apesar do número parecer grande, as chances de um paciente que precisa do transplante encontrar um doador compatível entre pessoas não aparentadas é de uma em 100 mil. Atualmente, segundo o REREME – Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea, 850 pessoas aguardam por um transplante de medula óssea em todo o país.

Transplante: irmandade solidária

A publicitária Duda Dornela descobriu a Leucemia Mieloide Crônica (LMC) em janeiro de 2015, durante os exames pré-nupciais. O tratamento começou em seguida e, inicialmente, Duda teve uma ótima resposta à quimioterapia. Após o casamento, que aconteceu em maio do mesmo ano, ela começou a ter perda de resposta hematológica. Por causa disso, a médica que a acompanhava resolveu encaminhá-la para o transplante de medula, já que a leucemia estava em fase acelerada: “Tomei conhecimento do REDOME após a descoberta da doença, quando meus médicos me explicaram as possíveis linhas de tratamento. Caso eu não respondesse ao tratamento e meu irmão não fosse compatível, seria necessário procurar um doador de medula através do banco nacional”, relata Duda.

De acordo com o Ministério da Saúde, os critérios de prioridade na lista são definidos de acordo com compatibilidade, gravidade, idade, tempo de espera, disponibilidade de doadores e disponibilidade de leitos. Para que seja feito um transplante de medula, é necessário o grau máximo de compatibilidade entre doador e receptor.

“Quando eu tive a perda de resposta do tratamento, fiquei bastante chateada, pois eu sabia que o transplante de medula óssea não seria um

Duda Dornela cercada por amigos e familiares, vestidos com a camiseta do projeto Valorizar a Vida.
Os familiares e amigos de Duda organizaram rifas solidárias para ajudar com as despesas. Crédito: Arquivo pessoal
tratamento fácil. Primeiramente foi feito o teste de compatibilidade (TMO) com meu irmão; porém, ele não foi compatível. Mesmo assim eu não perdi as esperanças, pois sabia que Deus tinha algo grande para mim. Até que fui encaminhada para fazer o TMO em São Paulo. Chegando lá, meu médico me deu uma ótima notícia: haviam encontrado dois doadores 100% compatíveis, brasileiros e jovens! Isso foi muito rápido, não precisei fazer campanha de doadores de medula, pois os encontrei com muita facilidade, para minha alegria. Sei que isso é muito difícil. Posso dizer que ganhei na loteria duas vezes e Deus me abençoou com esse presente!!”

Duda ainda não teve oportunidade de conhecer o doador pessoalmente, mas mantém contato come ele através das mídias sociais. “Tenho planos de me encontrar com ele em breve. Ele mora em São José do Rio Preto/SP e tem 26 anos, a mesma idade do meu irmão de sangue. Hoje o Thiago, meu doador de medula, além de meu herói, se tornou meu irmão também”. 

Hoje, a publicitária dedica parte do seu tempo à página @valorizaravida, criada no início de sua jornada. “Quando descobri a doença, senti a necessidade de compartilhar com as pessoas os momentos que eu estava passando dentro do hospital e inspirá-las a dar valor à vida”, explica Duda.

Duda conta que teve muito apoio durante o tratamento, inclusive financeiro e, por isso, não precisou fazer campanhas. “Porém, meus amigos e familiares organizaram rifas solidárias para mim, sem eu pedir, o que me ajudou muito a custear o tratamento em São Paulo”. A partir disso, viu a necessidade de ajudar outras pessoas. “Como tive o privilégio de fazer um tratamento digno, resolvi criar algumas camisas da página @valorizaravida para vender e, com o dinheiro arrecadado, ajudar algumas pessoas que estavam em tratamento e necessitavam de recursos financeiros.

Em relação à importância de fazer o cadastro como candidato à doação de medula óssea, ela deixa um recado: “Vale a pena viver a vida em cada segundo. Eu fui salva pelo simples gesto de empatia que meu doador fez por mim, doando parte da sua medula. Você também pode salvar a vida de outras pessoas com um gesto muito simples. Faça o seu cadastro e salve uma vida! Porque a vida é valiosa e devemos valorizá-la em cada detalhe! Doe Vida, doe medula! Seja você a cura de alguém”! 

A publicitária Duda Dornela usando a camiseta branca do projeto Valorizar a Vida
Curada após o transplante, Duda utiliza a página @valorizaravida para divulgar a importância do cadastro de medula óssea. Crédito: Arquivo pessoal

Medula óssea

Constituída por tecido líquido-gelatinoso, a medula óssea produz os componentes do sangue, incluindo as hemácias ou células vermelhas, responsáveis pelo transporte do oxigênio na circulação, os leucócitos ou células brancas, agentes mais importantes do sistema de defesa do nosso organismo, e as plaquetas, que atuam na coagulação do sangue. Ela contém as células-tronco responsáveis pela fabricação das células sanguíneas (hematopoese).

Vale lembrar: medula óssea é diferente de medula espinhal. A medula espinhal fica dentro da coluna vertebral e é responsável pelo sistema nervoso, transmitindo os impulsos nervosos. A medula espinhal não é afetada no transplante de medula óssea, portanto, não existe risco de perda dos movimentos.

 

 

 

 

 

 

 

 

Gestor responsável: Assessoria de Comunicação Social

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