A Fundação Hemominas, em parceria com a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), por meio do Hospital Eduardo de Menezes, e a UFMG, via Instituto de Ciências Biológicas, integram um projeto de estudo sobre a utilização do plasma sanguíneo de pessoas que se curaram da infecção pela Covid-19 (SARS CoV-2).

O estudo é baseado na literatura científica e em pesquisas internacionais que estão sendo desenvolvidas nesse momento. Tais pesquisas têm verificado que o plasma de pacientes que tiveram o novo coronavírus e se curaram da infecção poderia ser utilizado como mais uma opção para o tratamento da Covid-19.

Denominado plasma convalescente, esse plasma é coletado do paciente já recuperado da Covid-19 por meio de aférese (processo no qual pode-se doar somente uma parte do sangue). O restante do sangue (hemácias e plaquetas) retorna ao doador. O processo leva cerca de 90 minutos para ser realizado, sendo que o plasma de um único doador poderia tratar de dois a três pacientes.

Segundo a presidente da Hemominas, a médica hematologista Júnia Cioffi, este tipo de terapia já foi utilizado em outros surtos de doenças infecciosas, como em pacientes infectados por SARS, MERS, H1N1 e até Ebola, tendo resultados satisfatórios em alguns casos.

Porém, a presidente ressalta que é preciso um rigoroso ensaio clínico para melhor compreensão da evolução dos pacientes com o uso do plasma convalescente, visto que essa técnica ainda não é reconhecida como tratamento 100% eficaz.

Anticorpos

A presidente da Hemominas explica que, para se recuperar de um vírus, uma pessoa desenvolve anticorpos contra ele. “A proposta dessa terapia é retirar o plasma com esses anticorpos e aplicá-lo em quem está doente, o que ajudaria a combater a infecção”, complementa.

No entanto, aplicar essa terapia em larga escala pode ser difícil, porque para obter o plasma convalescente é preciso ter muita gente comprovadamente infectada, curada e que esteja apta e disposta a ceder o sangue. “Também é preciso verificar a compatibilidade do tipo sanguíneo, assim como na doação de sangue normal”, acrescenta Júnia Cioffi.

Pesquisa

Inicialmente, 12 pesquisadores da Hemominas e das instituições parceiras estarão à frente do estudo, mas à medida que evoluir, outros participantes da comunidade científica poderão integrar a equipe.

O projeto da pesquisa objetiva identificar a segurança da infusão do plasma de doadores convalescentes como mais uma alternativa terapêutica, em adição ao tratamento padrão de pacientes que apresentam a forma grave da Covid-19 com necessidade de oxigênio suplementar ou que estejam recebendo tratamento em terapia intensiva.

Antes de integrar o estudo, os possíveis doadores serão testados sorologicamente para o SARS CoV-2 (teste de PCR) e também para HIV, HCV, HBV, HTLV 1/2, doença de Chagas e sífilis.

A partir dos resultados da sorologia, será feita uma amostragem com 60 doadores selecionados entre pessoas que tiveram a infecção confirmada pelo novo coronavírus (SARS CoV-2) e que foram consideradas curadas após 14 dias do início dos sintomas.

O plasma será coletado em equipamentos de aférese e transfundido em pacientes com a Covid-19 em tratamento no Hospital Eduardo de Menezes. Crédito: Adair Gomez

O plasma desses doadores será coletado em equipamentos de aférese e transfundido em pacientes com a Covid-19 em tratamento hospitalar no Hospital Eduardo de Menezes, selecionados de acordo com a avaliação do clínico assistente.

No caso dos pacientes que serão tratados com o plasma, esses serão divididos em dois grupos, que receberão quantidades diferentes do hemocomponente. “A proposta do estudo é avaliar a resposta dos receptores frente à transfusão do plasma de doadores convalescentes e a segurança dessa terapia”, informa Júnia Cioffi.

De acordo com o médico hematologista Marcelo Fróes, coordenador da pesquisa pela Fundação Hemominas, a expectativa é que a utilização do plasma contribua para encurtar o tempo de recuperação e de internação. “Com o apoio do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, os anticorpos presentes no plasma doado serão verificados, assim como outras substâncias inflamatórias nos pacientes, o que será importante para melhor compreensão do tratamento”, destaca.

Para que as instituições envolvidas na pesquisa comecem os trabalhos, é necessária a aprovação do projeto pelo Conselho de Ética em Pesquisa (Conep). A partir daí, será iniciada a fase de identificação dos possíveis doadores do plasma convalescente e também dos futuros receptores desse hemocomponente.

Legislação

No início do mês, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a nota técnica 19/2020 para orientar pesquisadores e médicos sobre o uso de plasma convalescente como tratamento experimental para Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2).

No Brasil, as pesquisas sobre o plasma convalescente não necessitam de aprovação da Anvisa para serem conduzidas. Os estudos seguem as regras de outras instituições, como Comitês de Ética em Pesquisa, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e Conselho Federal de Medicina.

 

Gestor responsável: Assessoria de Comunicação Social

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