Estudantes conehcem Hemominas e o trabalho da psicologia no HBH

Este foi o objetivo da visita que 13 estudantes de psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) fizeram ao Hemocentro de Belo Horizonte (HBH), na quinta-feira, 23 de maio.

Na palestra proferida pela psicóloga Alice Oliver os estudantes ouviram um pouco da história da instituição e da doação de sangue, bem como o atendimento prestado pelo setor e por uma equipe multidisciplinar aos pacientes. Ela ressaltou que a Fundação Hemominas é referência para o diagnóstico e tratamento de pacientes portadores de coagulopatias, hemoglobinopatias  e os que necessitam de transfusão de sangue ou sangria terapêutica, sendo responsável por cerca de 95% dos procedimentos vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas.

Em sua explanação, Oliver falou sobre as características, sintomas e cuidados especiais relativos a cada uma das doenças, conhecimento fundamental que orienta a abordagem a ser feita com os pacientes. Segundo ela, o primeiro passo do psicólogo é acolher a pessoa diagnosticada, bem como sua família, fornecendo-lhes informações sobre a doença, tratamento, esclarecendo dúvidas: “É um trabalho educativo, temos de observar como a doença afeta a todos. Na hemofilia, por exemplo, um distúrbio genético e hereditário que afeta principalmente meninos, a mãe normalmente é a portadora da doença, transmitindo-a para o bebê, o que algumas vezes faz brotar nela um sentimento de culpa. As mães são orientadas, e aos bebês diagnosticados, a partir de certa idade, recomendamos até a psicoterapia, se necessário”, salientou.

E mais: “Ao psicólogo cabe avaliar o impacto dos diagnósticos das doenças entre o paciente e família, abordando as intercorrências e complicações provocadas por elas ao longo da vida, além de incentivar o autocuidado e adesão ao tratamento, como forma de prevenir complicações clínicas. Também deve referenciar os pacientes quanto a outros controles de saúde que devem fazer (cardiológico, ginecológico). Os vídeos educativos produzidos pela psicologia sobre doença falciforme e hemofilia são um suporte valioso na atenção aos pacientes”, ressaltou.

De acordo com Oliver, o paciente chega ao psicólogo por demanda espontânea, pela escola, por encaminhamento da equipe multidisciplinar ou de outros serviços de saúde.

A atuação do psicólogo no ambulatório da Fundação comporta os consultórios de psicologia, as salas de atividades, transfusão e sala de espera. Entre os principais desafios, ela registra a adesão dos adolescentes ao tratamento, o atendimento de pacientes com comprometimento cognitivo, aqueles com transtornos mentais, a falta de profissional de psicologia nos municípios e a vulnerabilidade social das famílias.

Por sua vez, considerando a visita “bem interessante”, a estudante Fernanda Gatto se disse surpreendida com a organização da equipe: “Fomos muito bem recebidos, apreciei a pontualidade na recepção, o cuidado no suporte ao paciente. São várias especialidades atreladas ao exercício da profissão e pudemos observar como a psicologia é importante, a falta que ela faz”, ressaltou.

Vinícius Bedran e Fernanda Gatto: “Bom assistir à palestra e conhecer o trabalho que a Hemominas faz. Pena que não há mais estágios com a PUC” – Foto: Adair Gomez.

Após a palestra, os estudantes encerraram a visita com um hemotur pelo ambulatório.

Cuidado na abordagem

Um em cada três bebês com hemofilia não tem nenhum histórico familiar da doença, que pode provocar sangramentos prolongados internos ou externos. Portanto, é fundamental trabalhar a aceitação dos envolvidos quanto às manifestações da doença, como sangramentos, sequelas, dificuldade nos movimentos e o cuidado que requerem: o tratamento adequado propicia melhor qualidade de vida. As crianças cadastradas na Hemominas contam com atividades lúdicas, pelas quais aprendem a lidar com as contingências da doença e a importância do autocuidado,

Segundo a psicóloga, o tratamento melhorou muito nos últimos anos, principalmente a partir de 2011, com o tratamento profilático. Hoje, o Ministério da Saúde (MS) libera o tratamento em casa, que consiste no Programa de Dose Domiciliar, liberado após avaliação médica, da assistente social e do psicólogo. Assim, a enfermeira treina pacientes e familiares sobre a aplicação do fator, segundo protocolos do MS. Um dos desafios dos profissionais da equipe multidisciplinar é a adesão dos pacientes ao tratamento, que é um dos mais caros do SUS e um dos melhores do mundo. Como função profilática, é ministrado uma, duas ou três vezes por semana, de acordo com a necessidade de cada paciente.

Anemia falciforme

No caso das hemoglobinopatias, a doença falciforme é a mais comum em todo o mundo, acometendo predominantemente a população negra. Entre as principais manifestações clínicas estão a anemia, icterícia, infecção, crise de dor, AVC, priaprismo, úlceras nas pernas, aumento do baço.

A abordagem da psicologia envolve muita ação educativa que, além do acolhimento e orientação, visam a promover a adesão ao tratamento para as famílias não faltarem às consultas. Os pacientes e familiares assistem a vídeos especialmente preparados que destacam a importância da hidratação constante e alimentação balanceada, entre outros cuidados. São tratadas questões como o tratamento profilático para crianças até cinco anos e a transfusão de sangue, a fim de que os pacientes entendam e aceitem a doença para cuidá-la.

Também são repassadas orientações como: evitar exposição prolongada ao frio, conscientizar as mulheres sobre gravidez de alto risco (consequências para ela e o bebê), preparar o paciente que quer ser pai (há casos em que ele precisa suspender o tratamento medicamentoso), estimular relações entre pais e filhos, possibilitando a continuidade do tratamento e tornando-os responsáveis e ativos durante todo o processo.

Devido às próprias características da doença, os pacientes falciformes encontram dificuldade de se inserir e permanecer no mercado de trabalho; assim, muitos a omitem: as transfusões e tratamento “atrapalham”. Também lutam contra o preconceito nas unidades de saúde: às vezes, crise agudas de dor só são combatidas com medicamentos muito fortes e o desconhecimento sobre a doença leva as unidades de saúde a questionar a necessidade do remédio.

Mesclando competências

A equipe multidisciplinar é composta por hematologista, infectologista, ortopedista, neurologia, fisioterapia, assistência social, psicólogo, enfermeiro, dentista, farmacêutico e pedagogo. Cada um, dentro de suas especificações, desenvolve atividades como orientar sobre locais de apoio e transporte (pacientes de fora, que moram longe da unidade da Hemominas e precisam de acomodação), atendimento individualizado e em grupo aos pacientes cadastrados, triagem das demandas dos familiares de pacientes para possível atendimento ou ainda seu encaminhamento para a rede.

Faz parte da rotina da equipe discutir casos e projetos para humanizar o atendimento, aproximando pacientes e famílias das questões emocionais que podem interferir positiva ou negativamente nos tratamentos. Nessa perspectiva, em abordagem complementar, a Fundação desenvolve projetos de pesquisa relativos aos aspectos psicológicos e outras repercussões correlatas. O ambulatório recebe algumas crianças inseguras, tímidas, depressivas, e é preciso estimular-lhes a autonomia possível.

Outra linha de ação são as parcerias viabilizadas com profissionais e instituições de saúde mental do SUS – como o Instituto Raul Soares – para discussão e orientação em casos de pacientes com transtorno mental grave.

Além disso, a equipe se relaciona com O Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Conselho Tutelar, escolas, centros de saúde. “A equipe não pode ficar presa a si mesma”, concluiu Alice Oliver.

Gestor responsável: Assessoria de Comunicação Social

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